O mistério do mar.

By: @Foolishjunkie

"...Vós sois, ambos os dois, discretos tenebrosos;
Homem, ninguém sondou teus negros paroxismos,
Ó mar, ninguém conhece os teus fundos abismos;
Os segredos guardais, avaros, receosos!..."

Há mais ou menos uma semana me desprendi de qualquer atividade adolescente típica carnavalesca. Troquei os milhões de empurrões, de vozes, de beijos promiscuos, de música ruim e bebedeira por algo que, me remetia à minha infância: passeio na praia com a família. Sem stress, sem agito, sem compromisso com qualquer outro ser vivo, a não ser eu.
Estava enganada quando pensei que passaria sozinha...Tirando a presença confortável de meus tios e primos, me acompanhou durante a minha fuga algo que, me fez parar para analisa-lo intimamente: o mar.
Não sei, caros leitores, se vocês são admiradores de boa música. Se não forem (que grande azar) me deem mais alguns posts para que mude a vossa opinião sobre o assunto. Mas, se forem do tipo de pessoas que sabem escutar algo mais além do barulho instrumental, devem surpreender-se comigo, assim como eu me surpreendi, depois que percebi que tal presença (a do mar) fosse tão misteriosa.
Citei a questão musical: parei para pensar em quantas músicas levam como tema essa entidade...Há milhões, em todos os poucos idiomas que mediocramente domino, e, em meu repertório musical, que não é dos mais bibliotecários, pude encontrar centenas.
Todas os citavam como algo incrivel, dotado de uma magia; uma válvula de escape; um mundo desconhecido, esconderijo de vidas incriveis, de seres mitológicos, de perigo constante; uma inquietude pacífica; um exemplo de vida.
Claro que, não é somente na música, mas em todas as expressoes artisticas humanas, encontramos o mar sempre relacionado a tudo isso acima. Sempre gerando uma curiosidade
O que tem no mar de tão interessante?
Pensemos pelo lado animado: é um mundo. assim como esse nosso...de construçoes, de ambientes, de vida, de vida competitiva, vida organizada, vida animal, vegetal, pluricelular, unicelular, mesozóica, pré-histórica......enfim! Dotado de vida...
Pensemos pelo lado abstrato: A inquietude constante...cara, essa caracteristica me dá nos nervos. Como que, nunca descansa? Como que nunca para? Porque nunca para? Porque é tão grande? Porque é tão..........singular?
Porque o enxergamos e sentimos uma sensação de vazio?
Quem nunca parou na frente ao grandioso reino de Poseidon e se sentiu um...nada? Quem nunca teve vontade de pegar um barquinho e sair seguindo, remando, remando, pra ver aonde dava?
Porque um dos maiores genios se referiu a menina mais linda que podia criar como possuídora de "olhos de ressaca"? e não, seilá, olhos de redemoinho?
Há até quem o estabeleça como referencia de felicidade, já que dizem que a felicidade verdadeira é um fim de tarde olhando o mar.
Porque na virada de um ano pra outro, pulamos suas ondinhas, e temos tanto misticismo que o envolve?
Meu deus, que linda é essa entidade. Que linda é a doce fúria que possui.
Roubou o meu óculos.

Inutilmente Parecemos Grandes

O mar jaz; gemem em segredo os ventos
Em Eolo cativos;
Só com as pontas do tridente as vastas
Águas franze Netuno;
E a praia é alva e cheia de pequenos
Brilhos sob o sol claro.
Inutilmente parecemos grandes.
Nada, no alheio mundo,
Nossa vista grandeza reconhece
Ou com razão nos serve.
Se aqui de um manso mar meu fundo indício
Três ondas o apagam,
Que me fará o mar que na atra praia
Ecoa de Saturno?

Ricardo Reis, in "Odes"
Heteronimo de Fernando Pessoa